O Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, que se caracteriza por
sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Ou seja,
para ser caracterizado como TDAH estas 3 características precisam estar
presentes e em diferentes situações como em casa, na escola e outros ambientes
que a criança frequenta.
A desatenção pode ser entendida como uma
dificuldade em se concentrar em tarefas e brincadeiras (a criança não seguir
instruções até o fim, deixa a tarefa inacabada, distrai-se com facilidade) e
por esquecimentos frequentes (perde materiais, esquece compromissos). A
hiperatividade é uma característica comportamental de agitação constante
(dificuldade me permanecer sentado quando necessário, corre e sobe em objetos
frequentemente, fala demais). Já a terceira característica é a impulsividade
(não consegue aguardar a vez, fala antes de pensar ou antes da hora certa).
Quem tem TDAH é agitado, desatento e impulsivo.
É preciso reforçar que o TDAH não é um
transtorno devido às circunstâncias sociais em que a criança vive. O TDAH tem
uma origem neurológica. Estudos científicos mostram que portadores
de TDAH têm alterações na região frontal e nas suas conexões com o resto do
cérebro. Esta região é responsável pela inibição do comportamento (isto é,
controlar ou inibir comportamentos inadequados), autocontrole, organização e
planejamento.
Por ser mais evidente em crianças na idade escolar,
educadores e pais precisam estar atentos aos sinais do transtorno.
2.
Se a
criança já nasce com o TDAH, quais sinais os pais e professores devem ficar
atentos?
As manifestações desse problema sempre
têm início na infância. Ninguém adquire o transtorno na adolescência ou
idade adulta. Muitas vezes os pais contam que já desde o berço notavam que
aquela criança era mais agitada, mais insaciável, irritada, de difícil consolo,
com maior prevalência de cólicas, dificuldades de alimentação e de sono.
Na idade pré-escolar é uma criança mais agitada,
pode ter dificuldade de ajustamento, ser mais teimosa, irritada e extremamente
difícil de satisfazer.
No ensino fundamental pode ter incapacidade de se
concentrar, distração, ser mais impulsivo, ter um desempenho inconsistente e a
presença de hiperatividade.
Na adolescência é inquieto, o desempenho acadêmico
é ruim, há dificuldade de concentrar, de memorizar, além da propensão ao abuso
de substâncias químicas e acidentes.
3.
Com
que frequência ocorre o TDAH?
A frequência com que se observa entre as crianças
varia de 3 a 10 % da população infantil. Nos adultos estima-se que deve ser em
torno de 4%. Pensa-se que em cada sala de aula deve existir pelo menos uma
criança com esse problema. (Associação Brasileira de Déficit de Atenção – ABDA)
4. Qual a causa do TDAH?
O TDAH tem causas genéticas, aparece na
infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Quando identificamos uma pessoa com
TDAH, se pesquisarmos na mesma família, invariavelmente encontraremos outras
pessoas com o mesmo problema, com frequência um dos pais ou algum irmão.
Substâncias ingeridas na gravidez como
a nicotina e o álcool também podem causar alterações em
algumas partes do cérebro do bebê. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm
maiores chances de ter filhos com problemas de hiperatividade e desatenção.
Entretanto, muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre
estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
Problemas familiares podem agravar um quadro de
TDAH, mas não causá-lo.
5. Quais as consequências do TDAH
para uma pessoa?
Uma pessoa com TDAH, quando não é muito acentuado,
pode passar pela vida sem maiores complicações. Todavia, o mais comum é que os
sintomas do TDAH (desatenção, hiperatividade e impulsividade) tragam alguns
prejuízos. Além de baixo rendimento escolar, podem ocorrer dificuldades nos
relacionamentos, baixa autoestima, problemas profissionais (mudanças frequentes
de trabalho, demissões, nível de realização abaixo da sua capacidade), maior
propensão ao uso de álcool e drogas, maior propensão a vários tipos de
acidentes (como no os acidentes de trânsito), risco maior de apresentarem
outros transtornos (como depressão, transtornos ansiosos, etc).
Ou seja, se realmente for confirmado o diagnóstico
de TDAH é necessário levar a sério o tratamento para minimizar as possíveis
consequências negativas.
6.
Como o
TDAH pode ser diagnosticado?
Não existe no momento nenhum teste ou exame
que sozinho faça o diagnóstico do TDAH, sendo o mesmo feito de forma clínica. O diagnóstico deve ser feito por psiquiatras
ou neuropediatras, com ajuda de psicólogos, que fazem avaliações e
questionários para saber se essa criança realmente tem o nível de atenção e
hiperatividade que excede o que é encontrado em crianças normais.
Para o diagnóstico ser confirmado é necessário que
os sintomas durem um certo tempo, em mais de um lugar (casa, escola, lazer) e
prejudicar a pessoa (aprendizado, convívio, tarefas). Além disso, os sintomas
devem atender os critérios descritos no Manual de Diagnóstico e Estatística dos
Transtornos Mentais (DSM-V). Conforme este manual o diagnóstico de TDAH não é
confiável para crianças menores de 5 anos (níveis inadequados de atenção,
hipercinesia e impulsividade podem ser comportamentos normais nestas idades).
O TDAH não deve ser confundido com o
comportamento de uma criança que é apenas agitada ou hiperativa. Além
disso, é necessário descartar a ocorrência dos sintomas devido somente a
separação ou briga dos pais (que podem causar sintomas parecidos com os de
TDAH), a diminuição
da audição ou da visão às vezes ainda não detectadas (pode deixar uma criança
desinteressada, desatenta e inquieta), o uso de certos medicamentos e algumas
doenças clínicas, a presença de transtornos psíquicos (como o autismo, a
depressão, o transtorno bipolar, os quadros de ansiedade).
7.
O TDAH
pode estar associado a outros transtornos?
Conforme a ABDA, estima-se que até 70% das crianças
com TDAH apresentam simultaneamente outros transtornos. O TDAH pode estar
associado com: 1. Transtornos do Aprendizado (dos quais os mais comuns são os
transtornos de leitura, de escrita e de matemática); 2. Transtorno de Desafio e
Oposição e Transtorno de Conduta; 3. Tiques; 4. Transtorno Ansiosos (Pânico,
Fobia Social, Transtorno de Ansiedade Generalizada); 5. Transtornos do Humor
(Depressão, Distimia, Transtorno Bipolar) 6. Abuso de Drogas e Alcoolismo.
8.
O TDAH
tem cura?
Uma vez que o TDAH é de origem
neurológica ele acompanha a pessoa por toda a vida. É
importante que seja diagnosticado desde a infância para que seja iniciado o
tratamento adequado, o que pode minimizar maiores prejuízos e riscos na
adolescência ou idade adulta. Existem, entretanto, muitos adultos com déficit
de atenção, os quais podem se beneficiar de estratégias de controle para lidar
com a desatenção e a hiperatividade, que é a característica do transtorno. Caso
isto não ocorra, essas pessoas podem ficar mais expostas a situações de
acidentes e risco, provenientes da sua desatenção dificuldade de controle dos
impulsos.
Enfim, não se pode falar em cura do TDAH. A pessoa
pode ter uma vida ajustada caso faça o tratamento adequado e aprenda a conviver
com os sintomas.
9.
Qual o
tratamento mais indicado?
Existem alguns medicamentos que são utilizados,
justamente devido à existência de uma base neurológica. Esses medicamentos
atuam nas funções e neurotransmissores que supostamente estão falhos e servem
para controle da impulsividade, da hiperatividade e da desatenção. Além dos
medicamentos, é importante a intervenção complementar com um psicólogo, o qual
ajudará no controle dos comportamentos. A abordagem mais indicada é a cognitivo
comportamental. O trabalho de um pedagogo ou psicopedagogo também será fundamental
para auxiliar na aprendizagem escolar.
Ou seja, o tratamento do TDAH envolve abordagens
múltiplas, devendo receber orientações não só o paciente, mas como também a
família e a escola.
10.
. Qual
o papel do professor no processo diagnóstico e no tratamento do TDAH?
Os professores observam as crianças em uma
grande variedade de situações e possuem experiência com um grande número de
crianças, o que possibilita a distinção entre os comportamentos esperados para
a faixa etária e os comportamentos atípicos. Identificar precocemente
os sintomas e encaminhar a criança o mais rápido possível para a avaliação
médica é fundamental no processo diagnóstico e de tratamento do TDAH.
Não cabe ao professor realizar o diagnóstico. O papel preponderante é o de
encaminhamento para os serviços especializados. Uma vez confirmado o
diagnóstico um plano de intervenção deve ser traçado para favorecer o
aprendizado e ajustar o comportamento.
Concluindo, reforçamos a importância do
encaminhamento precoce para diagnóstico e tratamento. Embora nem tudo
seja TDAH, ele atinge um número significativo de pessoas, perdura por toda a
vida, sendo necessária intervenção apropriada para que o paciente consiga ter
uma vida feliz e ajustada.
É cada vez mais comum nos consultórios e nas salas de aula a queixa sobre a agitação e desatenção de algumas crianças. E, com grande frequência, em meio à observação da inquietude e falta de concentração, logo vem o rótulo: “deve ter TDAH”. Entretanto, o desconhecimento sobre o que realmente seja TDAH e a dificuldade em diferenciá-lo de outros quadros (ou de uma simples dificuldade de aprendizagem) pode comprometer o desenvolvimento de muitas crianças. Estudos de acompanhamento prospectivo demonstram que o TDAH é fator de risco para baixo desempenho acadêmico crônico, para altos índices de abandono escolar e para maior probabilidade de abuso de substâncias químicas na adolescência. Valeska Magierek (Psicóloga,
Especialização em Neuropsicologia e Mestre em Psicobiologia. Atua na área
Clínica com atendimento de crianças e como Professora Universitária).