(Autor desconhecido)
Numa tribo indígena não existe
a escola como um momento separado. Todo o cotidiano é um processo pedagógico,
educativo. O aparecimento da escola, como um momento do cotidiano, esta ligado
à progressiva divisão social do trabalho. Na medida em a convivência social se
tornou mais complexa, o cotidiano complementou- se em momentos específicos,
cada um deles como um sistema autônomo, com sua lógica e regras próprias.
Ninguém espera a família ou o clube ensine Álgebra ou
Química. Não se espera também que a escola dê orientação sexual, considerada
tarefa familiar. Essa divisão cartesiana ou funcionalista dos processos pedagógicos
tampouco contempla o entrelaçamento escolar. Mesmo a religião é tida como esfera
a parte. O resultado desse processo é a fragmentação da realidade. Cada vez se
percebe menos o mundo em que se vive. Estabelecendo- se a dicotomia entre a
fome de pão e de beleza. Educa- se para saciar a primeira, sem considerar o
sentido mesmo da existência.
O processo educacional abarca, numa concepção totalizante
, quatro direções: Transmissão do patrimônio cultural, despertar das
potencialidades espirituais, reflexão do que se vive e capacidade de modificar
a realidade. Hoje, a escola restringe- se à primeira dimensão. O acesso ao
saber justifica- se por razões da ordem instrumental. Aliado da criatividade e
da reflexão transforma- se em processo de domesticação intelectual. Basta conferir
os livros didáticos que já vêm com repostas às questões levantadas, como se
fossem universais, neutras, sem implicações. Daí a perplexidade quando a
resposta do educando não coincide com a da editora ou a do autor. Não se admite
que uma mesma questão possa ter diferentes soluções. Assim, a aprendizagem
confina- se na memorização, com a mera reprodução do saber.
Filha da tradição cartesiana, a escola só se preocupa com
a pessoa do pescoço para cima. Desconsidera pois o vasto legue de
potencialidades não estritamente intelectuais, nas lúdicas, artísticas e
espirituais, que não podem ser trabalhadas ao nível dos conceitos. Acentua- se
a divisão entre o saber intelectual e o experimental. A escola, ao separar o
espaço do aprendizado do espaço da existência, impede o sujeito de pensar o
cotidiano com suas implicações. Essas aparecem fragmentadas, como se o assalto
a banco não tivesse nenhuma relação com a polícia salarial ou as medalhas de
ouro conquistadas numa olimpíada com o investimento na área social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário