A
prática de leitura desenvolvida por uma professora dos anos iniciais do ensino
fundamental: relato de experiência
Vânia da Consolação Lima Giardini[1]
Apresentação
Este trabalho tem como
objetivo relatar e refletir sobre a prática de leitura realizada pela
professora autora deste estudo, com alunos do 1º ano escolar.
Sua importância reside
no compromisso em alfabetizar as crianças até os 8 anos de idade. Dessa forma,
ações em torno do sistema de escrita alfabético, das práticas de leitura e
produção de texto, bem como a oralidade devem ser trabalhadas de forma lúdica e
prazerosa pelo professor tendo em vista a efetiva aprendizagem dos alunos.
Fundamentação Teórica
O ensino de Língua
Portuguesa deve ser desenvolvido por meio das seguintes habilidades
linguísticas: fala, escuta (eixo língua oral) e leitura e produção de texto (eixo
língua escrita), ambos considerando a análise e reflexão da língua (BRASIL,
1997).
“O trabalho com leitura
tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a
formação de escritores” (BRASIL, 1997, p. 40). Portanto, leitura e produção de
textos são práticas indissociáveis.
O ato de leitura
extrapola a decodificação. Ler envolve a apreensão da realidade por meio do
texto. Sendo assim, ler um texto é compreendê-lo, principalmente a partir do
conhecimento que já se possui. “A leitura remete ao texto e à sua rede de
significações. O texto remete à ideias, valores e crenças, ideologias,
sentimentos, emoções, afetos” (CORDEIRO,
2006, p. 91).
Sabemos que ler
e escrever são ações culturais que devem ser ensinadas, dia-a-dia no espaço
escolar da escola, e com o apoio dos familiares. Nesse sentido, sabemos que
ninguém se torna leitor fora do contexto cultural no qual o livro e a leitura
tenham uma importante presença (SERRA, 2006, p. 121).
Nesse contexto, a
escola deve pautar o desenvolvimento da leitura na perspectiva do letramento,
de modo que a criança explore a leitura em diferentes práticas sociais e
culturais, considerando a pluralidade de estímulos escritos, ou seja, as
inúmeras oportunidades de leitura e escrita existente nos ambientes letrados (FILIPOUSKI,
2006).
Lidamos
com a leitura o tempo todo, já que fazemos parte de uma sociedade grafocêntrica,
em que a escrita é parte constitutiva das mais diversas atividades do nosso
dia-a-dia: há textos escritos em muros, outdoors, camisetas, papéis,
cartões, livros, livrinhos e livrões. Estes são alguns dos diferentes suportes
do texto (BRASIL, 2008, p. 16).
Sabemos também que a
leitura é um meio fundamental para a aprendizagem humana, uma vez que permite a
aquisição de conhecimento, o enriquecimento do vocabulário e a interpretação,
Nesse aspecto, reside à importância de seu desenvolvimento na escola.
A escola, a partir do
trabalho do professor deve oportunizar aos alunos o contato com uma diversidade
de textos e recursos de qualidade, visando à formação leitora das crianças
(SERRA, 2006).
Na sala de aula, o
trabalho de leitura deve ser cotidiano. As atividades de leitura podem envolver
a leitura em si, como também a escrita. As atividades de leitura podem ser realizadas
em voz alta ou silenciosa, individuais ou coletivas, na sala ou na biblioteca, feita
pelos alunos ou pelo professor (BRASIL, 2008).
A prática do professor
pode ser desenvolvida por meio de várias metodologias, como por exemplo,
sequências didáticas (SD). A SD consiste em um modelo didático que agrega uma
série de atividades, ou seja, um encadeamento de passos para ensinar um mesmo
gênero, visando à aprendizagem. Esta metodologia foi escolhida para o
desenvolvimento deste trabalho, considerando, em especial, a aprendizagem das
crianças.
Descrição
das atividades e forma de avaliação
Desenvolvi a minha
prática contemplando a modalidade organizativa sequência didática. Destaquei os
seguintes objetivos a serem alcançados pelos alunos: ler textos verbais e não
verbais, em diferentes suportes; ler com autonomia e fluência; compreender
textos lidos; antecipar sentidos e inferir significados; localizar informações
no texto; estabelecer relação de intertextualidade; apreender assuntos/temas.
Esses objetivos estão intrinsecamente relacionados aos direitos de aprendizagem
das crianças: compreender e produzir textos orais e escritos de diferentes gêneros;
apreciar, entender e utilizar em situações significativas os textos do universo
literário; produzir textos; participar de situações de leitura e escuta,
desenvolvendo a oralidade.
Nesse sentido, a partir
das histórias da “Dona Baratinha” e da “Chapeuzinho Vermelho”, propus
atividades ao longo de algumas semanas e em diversas disciplinas, buscando
trabalhar numa perspectiva interdisciplinar.
Os jogos para
alfabetização “caça-rimas”, “bingo dos sons iniciais”, “dado sonoro”, “trinca
mágica”, “batalha de palavras”, “troca de letras”, “bingo de letra inicial”,
“palavra dentro de palavra”, “quem escreve sou eu”, “mais uma”, indicados pelo
Programa Pacto foram utilizados em sala. Além desses jogos, trabalhei outros
que já faziam parte da minha prática e confeccionei mais alguns. Considero os
jogos como uma ferramenta primordial no processo ensino-aprendizagem, essencial
para a contribuição e construção do conhecimento, pois favorece a apreensão dos
conteúdos de uma forma lúdica e prazerosa.
A leitura é realizada
todos os dias na sala de aula. Valorizo nesse momento, a leitura individual, a
leitura colaborativa, a leitura feita pelo professor, à leitura de textos
verbais e não verbais.
Uma grande contribuição
para o meu trabalho e para a aprendizagem dos alunos é o cantinho de leitura,
onde se concentra o acervo na sala de aula. Esse espaço é rico em termos de
diversidade de materiais, contendo variados tipos de texto, de gêneros textuais
diferenciados. As crianças se sentem atraídas e têm um envolvimento diário,
demonstrando o desejo em ler, folhear e comentar com os colegas as histórias
que despertam mais interesse. Os livros para os alunos são envolventes e a
prática de leitura no ‘cantinho’ só tem trazido benefícios para toda a turma.
Dessa forma, todos os dias
permito que os alunos escolham nesse ‘cantinho’ os livros que querem levar para
casa. No dia seguinte, os primeiros 30 minutos da aula são reservados para que
todos possam ler um trecho do livro que chamou sua atenção. Os alunos que não
dominam a leitura, ou ainda não decodificam as letras, fazem a leitura das
imagens, produzindo textos orais.
Os recursos
metodológicos que utilizo para o desenvolvimento das práticas de leitura são o
alfabeto móvel, os livros, as histórias e os jogos. Esses recursos auxiliam as
crianças no processo da aprendizagem, pois, têm potencial para aguçar o
interesse e a motivação. Permitem que a criança faça uma reflexão de seu
conhecimento e enriqueça seu aprendizado pela vivência dessas experiências.
A utilização desses
recursos metodológicos, ou seja, o uso de materiais concretos, bem como a
postura criativa do professor na elaboração das aulas, torna-as divertidas,
humoradas e cheias de entusiasmo.
Dessa forma, os alunos
se comportam com interesse e envolvimento. Mesmo aqueles que ainda não dominam
a leitura e a escrita participam das atividades, relatando suas ideias, seu
ponto de vista diante de determinado assunto que está sendo abordado. Os alunos
fazem questionamentos, levantam hipóteses e discutem com os colegas as atividades
de leitura e interpretação de textos que são realizadas.
A avaliação se faz por
meio da prática de leitura. Os alunos leem para serem avaliados. Ouvindo a
leitura feita pelas crianças tenho condições de avaliar se já sabem ler ou se
estão caminhando nesse sentido. Só a partir da leitura individual é possível
identificar as habilidades e dificuldades dos alunos, podendo assim, planejar
as atividades de acordo com as necessidades de cada um.
Na avaliação da
leitura, é importante também perceber se os alunos estão sendo capazes de
compreender o sentido dos textos. Dessa forma, proponho atividades de
interpretação, realizadas em sala de aula, enviadas para casa e presentes nas
provas.
A leitura e a
interpretação de texto são trabalhadas em todas as disciplinas. A criança só
terá uma boa proficiência nos outros conteúdos escolares se tiver desenvolvido
bem esta habilidade, portanto, a leitura é fundamental para o sucesso escolar.
Nesse sentido, a
avaliação que desenvolvo é contínua e processual. Todas as práticas que
englobam a leitura são acompanhadas, dando atenção especial ao processo de
desenvolvimento da criança.
Avaliação
dos resultados
Os objetivos propostos
e indicados anteriormente neste trabalho foram alcançados, o que permitiu a
aquisição, consolidação e ampliação dos conhecimentos por parte das crianças.
Trabalhar leitura com
atividades sequenciais contribuiu para a aprendizagem dos alunos bem como para
a socialização, aspectos que considero muito positivos. Os alunos se mostraram
amigáveis e parceiros, tornando o meu trabalho mais receptivo e envolvente, o
que favoreceu o alcance dos objetivos.
A interação na classe e
desta comigo foi dinâmica, dessa forma, não houve dificuldade em executar as
atividades por parte dos alunos, pois já possuíam um conhecimento prévio do
assunto em questão, tiveram postura participativa e eu, como professora, me
coloquei no papel de mediadora da construção do conhecimento. Portanto, as
dificuldades que surgiram foram solucionadas, principalmente, a partir de uma
boa relação professor-aluno.
Considerações
finais
A realização das
atividades descritas neste trabalho foi interessante e motivadora, pois
envolveu os alunos na dinâmica proposta. Ao mesmo tempo, foi uma experiência
gratificante porque pude acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento dos
alunos, sendo que os direitos de aprendizagem foram priorizados e os objetivos
didáticos alcançados.
A experiência
vivenciada contribuiu para o meu desenvolvimento pessoal e profissional, uma
vez que as formações do Pacto permitiram ressignificar e refletir sobre a ação
docente, em um movimento teórico-prático.
Ao final deste
trabalho, tenho a expectativa de que as próximas ações a serem desenvolvidas em
sala de aula se pautem pelo planejamento, pela constante avaliação de sua
execução e pelo registro que constituem ferramentas indispensáveis ao fazer
docente.
Referências
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua
portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
______. Pró-Letramento: Programa de formação
continuada de professores dos anos/séries iniciais do Ensino Fundamental:
alfabetização e linguagem: formação de professores... – Ed. rev. e ampl.
Brasília: MEC/SEB, 2008.
CORDEIRO,
Verbena Maria Rocha. Escritores e leitores. CARVALHO, M. A. F. de; MENDONÇA, R.
H. (Orgs.). In: Práticas de Leitura e
Escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.
FILIPOUSKI,
Ana Maria Ribeiro. Professor: leitor e formador de leitores. CARVALHO, M. A. F.
de; MENDONÇA, R. H. (Orgs.). In: Práticas
de Leitura e Escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.
SERRA,
Elizabeth D’Ângelo. Livros de literatura e televisão. CARVALHO, M. A. F. de;
MENDONÇA, R. H. (Orgs.). In: Práticas de
Leitura e Escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.
[1]
Graduada em Licenciatura Básica dos Anos Iniciais. Professora na Escola
Municipal Manoel Mayrink Neto. E-mail: vaniagodoylima@hotmail.com
No Seminário. |
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