Teatro
A
pipa e a flor
(CELENA)
Narrador – A pipa e a flor é uma história do escritor Rubem Alves. É uma
historia de amor: uma pipa se apaixonou por uma flor, e uma flor se apaixonou
por uma flor, e uma flor se apaixonou por uma pipa. Mas elas apaixonaram de
maneiras diferentes. A pipa gostava de voar, flor gostava de abraçar.
Todos:
- Ô pipa boa! Como é levinha e travessa! Como sobe alto... Fica brincando com o
perigo. Cuidado com os fios e os galhos de árvores!
(MARCOS)
Pipa – Vocês não pegam vocês não me pegam!
(LORENA)
Narrador – Amigos, a pipa tinha aos montões. E seus olhos iam agradando a todos
eles, sempre com aquela risada gostosa, contando casos.
(MARCOS)
Pipa – Oi amiguinhos! Tudo Bem! Aqui de cima a visão é maravilhosa. Veja tudo
que está acontecendo aí em baixo.
(NATÁLIA)
Narrador – Mas aconteceu que, um dia, ela estava começando a subir, correndo de
um lado para o outro no vento, quando olhou para baixo e viu, lá um quintal,
uma flor: A pipa já havia visto muitas flores. Só que dessa vez seus olhos e os
olhos da flor se encontraram, e ela sentiu uma coisa estranha. Não, não era a
beleza da flor: Já vira outras, mais belas. Eram olhos...
Todos:
- Há olhos que agradam, acariciam a gente como se fossem mãos. Outros dão medo,
ameaçam, acusam. Tem também olhos que colam, hipnotizam, enfeitiçam...
(CELENA)
Narrador – Foi isso que aconteceu com a pipa. Ela ficouenfeitiçada. Não queria
mais ser pipa.
(MARCOS)
Pipa – Ah! Ela é tão maravilhosa! Se eu pudesse ficaria de mãos dadas com ela
pelo resto de minha vida!
(LORENA)
Narrador - E a pipa resolveu mudar de dono, Aproveitando-se de um vento forte,
deu um puxão repentino na linha, ela arrebentou e a pipa caiu devagarzinho, ao
lado da flor.
Todos
– Todos assopram bem fortes.
(NATÁLIA)
Narrador – E a flor segurou forte a linha da pipa. Agora, com linha nas mãos da
flor, a pipa pensou que voar seria mais gostoso. E a pipa pediu:
Pipa:
Florzinha, me faz voar.
(CELENA)
– E a florzinha fez a pipa voar. A pipa subia bem alto e seu coração batia
feliz.
Todos
– Quando se está lá no alto, é bom saber que tem alguém esperando lá embaixo.
(LORENA)
Narrador – Mas a flor, aqui de baixo percebeu que estava ficando triste. Não
que estivesse triste. Ela estava ficando com raiva.
(NATALIE)
Flor – Que injustiça! A pipa voa tão alto. E eu felicidade da pipa.
(NATÁLIA)
Narrador – E a flor teve inveja e raiva ao ver a felicidade da pipa.
(NATALIE)
Flor – Se a pipa me amasse de verdade, não poderia esta feliz lá em cima, longe
de mim. Ficaria o tempo todo aqui comigo.
Todos
– E a inveja juntou-se ao ciúme.
Inveja
é
ficar infeliz vendo as coisas bonitas e boas que os outros têm, e nós não.
Ciúme é a
dor que dá quando a gente imagina a felicidade do outro, sem que a gente esteja
com ele.
(LORENA)
Narrador – E a flor começou a ficar malvada. Ficava emburrada quando a pipa
chegava. E exigia explicações de tudo.
(NATALIE)
Flor – O que você faz tanto tempo lá em cima? Por que não volta depressa para
ficar junto de mim?
(MARCOS)
Pipa – É que encontrei com alguns amigos e ficamos conversando.
(NATALIE)
Flor- Seus amigos são mais importantes do que eu?
(LORENA)
Narrador – E a pipa começou a ter medo de ficar feliz, pois sabia que isso
faria a flor sofrer. E a flor foi, aos poucos encurtando a linha. A pipa não
podia mais voar. Via ali do baixinho, de sobre o quintal (essa era toda a
distância que a flor lhe permitia voar), as outras pipas, lá em cima... E sua
boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava tanto da flor, como no
inicio...
Todos
– Esta historia não terminou. Esta acontecendo bem agora, em algum lugar... E
há três jeitos de escrever o fim. Você é quem vai escolher.
(NATÁLIA)
Narrador – Primeiro: A pipa ficou tão triste que resolveu nunca mais voar.
(MARCOS)
Pipa – Não vou te incomodar com meus risos flor, mas também não vou te dar a
alegria do meu sorriso.
(NATÁLIA)Narrador
– E assim ficou, amarrada junto à flor, mais longe dela do que nunca, porque
seu coração estava em sonhos de voos e nos risos de outros tempos.
(CELENA)
Narrador – Segundo: A flor, na verdade era uma borboleta que uma bruxa má havia
enfeitiçado e condenado a permanecer fincada no chão. O feitiço só se quebraria
no dia em que ela fosse capaz dizer não a inveja e ao ciúme, e se sentisse
feliz com a felicidade dos outros. E aconteceu que um dia, vendo a pipa voar,
ela se esqueceu de si mesma por um instante e ficou feliz ao ver a felicidade
da pipa. Quando isso aconteceu, o feitiço se quebrou e ela voou, agora como
borboleta, para o alto, e as duas, pipa e borboleta, puderam brincar juntas.
(NATÁLIA)
Narrador – Terceiro: A pipa percebeu que havia mais alegria na liberdade de
antigamente que nos abraços da flor. Porque aqueles eram abraços que amarram. E
assim, num dia de grande ventania, e se valendo de uma distração da flor,
arrebentou a linha e foi em busca de outra mão que ficasse feliz vendo – a voar
nas alturas.
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