terça-feira, 1 de abril de 2014

A prática de leitura - relato de experiência: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa..



A prática de leitura desenvolvida por uma professora dos anos iniciais do ensino fundamental: relato de experiência

Vânia da Consolação Lima Giardini[1]

Apresentação

Este trabalho tem como objetivo relatar e refletir sobre a prática de leitura realizada pela professora autora deste estudo, com alunos do 1º ano escolar.
Sua importância reside no compromisso em alfabetizar as crianças até os 8 anos de idade. Dessa forma, ações em torno do sistema de escrita alfabético, das práticas de leitura e produção de texto, bem como a oralidade devem ser trabalhadas de forma lúdica e prazerosa pelo professor tendo em vista a efetiva aprendizagem dos alunos.


Fundamentação Teórica

O ensino de Língua Portuguesa deve ser desenvolvido por meio das seguintes habilidades linguísticas: fala, escuta (eixo língua oral) e leitura e produção de texto (eixo língua escrita), ambos considerando a análise e reflexão da língua (BRASIL, 1997).
“O trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores” (BRASIL, 1997, p. 40). Portanto, leitura e produção de textos são práticas indissociáveis.
O ato de leitura extrapola a decodificação. Ler envolve a apreensão da realidade por meio do texto. Sendo assim, ler um texto é compreendê-lo, principalmente a partir do conhecimento que já se possui. “A leitura remete ao texto e à sua rede de significações. O texto remete à ideias, valores e crenças, ideologias, sentimentos, emoções, afetos”  (CORDEIRO, 2006, p. 91).


Sabemos que ler e escrever são ações culturais que devem ser ensinadas, dia-a-dia no espaço escolar da escola, e com o apoio dos familiares. Nesse sentido, sabemos que ninguém se torna leitor fora do contexto cultural no qual o livro e a leitura tenham uma importante presença (SERRA, 2006, p. 121).


Nesse contexto, a escola deve pautar o desenvolvimento da leitura na perspectiva do letramento, de modo que a criança explore a leitura em diferentes práticas sociais e culturais, considerando a pluralidade de estímulos escritos, ou seja, as inúmeras oportunidades de leitura e escrita existente nos ambientes letrados (FILIPOUSKI, 2006).


Lidamos com a leitura o tempo todo, já que fazemos parte de uma sociedade grafocêntrica, em que a escrita é parte constitutiva das mais diversas atividades do nosso dia-a-dia: há textos escritos em muros, outdoors, camisetas, papéis, cartões, livros, livrinhos e livrões. Estes são alguns dos diferentes suportes do texto (BRASIL, 2008, p. 16).
Sabemos também que a leitura é um meio fundamental para a aprendizagem humana, uma vez que permite a aquisição de conhecimento, o enriquecimento do vocabulário e a interpretação, Nesse aspecto, reside à importância de seu desenvolvimento na escola.
A escola, a partir do trabalho do professor deve oportunizar aos alunos o contato com uma diversidade de textos e recursos de qualidade, visando à formação leitora das crianças (SERRA, 2006).
Na sala de aula, o trabalho de leitura deve ser cotidiano. As atividades de leitura podem envolver a leitura em si, como também a escrita. As atividades de leitura podem ser realizadas em voz alta ou silenciosa, individuais ou coletivas, na sala ou na biblioteca, feita pelos alunos ou pelo professor (BRASIL, 2008).
A prática do professor pode ser desenvolvida por meio de várias metodologias, como por exemplo, sequências didáticas (SD). A SD consiste em um modelo didático que agrega uma série de atividades, ou seja, um encadeamento de passos para ensinar um mesmo gênero, visando à aprendizagem. Esta metodologia foi escolhida para o desenvolvimento deste trabalho, considerando, em especial, a aprendizagem das crianças.


Descrição das atividades e forma de avaliação

Desenvolvi a minha prática contemplando a modalidade organizativa sequência didática. Destaquei os seguintes objetivos a serem alcançados pelos alunos: ler textos verbais e não verbais, em diferentes suportes; ler com autonomia e fluência; compreender textos lidos; antecipar sentidos e inferir significados; localizar informações no texto; estabelecer relação de intertextualidade; apreender assuntos/temas. Esses objetivos estão intrinsecamente relacionados aos direitos de aprendizagem das crianças: compreender e produzir textos orais e escritos de diferentes gêneros; apreciar, entender e utilizar em situações significativas os textos do universo literário; produzir textos; participar de situações de leitura e escuta, desenvolvendo a oralidade.
Nesse sentido, a partir das histórias da “Dona Baratinha” e da “Chapeuzinho Vermelho”, propus atividades ao longo de algumas semanas e em diversas disciplinas, buscando trabalhar numa perspectiva interdisciplinar.
Os jogos para alfabetização “caça-rimas”, “bingo dos sons iniciais”, “dado sonoro”, “trinca mágica”, “batalha de palavras”, “troca de letras”, “bingo de letra inicial”, “palavra dentro de palavra”, “quem escreve sou eu”, “mais uma”, indicados pelo Programa Pacto foram utilizados em sala. Além desses jogos, trabalhei outros que já faziam parte da minha prática e confeccionei mais alguns. Considero os jogos como uma ferramenta primordial no processo ensino-aprendizagem, essencial para a contribuição e construção do conhecimento, pois favorece a apreensão dos conteúdos de uma forma lúdica e prazerosa.
A leitura é realizada todos os dias na sala de aula. Valorizo nesse momento, a leitura individual, a leitura colaborativa, a leitura feita pelo professor, à leitura de textos verbais e não verbais.
Uma grande contribuição para o meu trabalho e para a aprendizagem dos alunos é o cantinho de leitura, onde se concentra o acervo na sala de aula. Esse espaço é rico em termos de diversidade de materiais, contendo variados tipos de texto, de gêneros textuais diferenciados. As crianças se sentem atraídas e têm um envolvimento diário, demonstrando o desejo em ler, folhear e comentar com os colegas as histórias que despertam mais interesse. Os livros para os alunos são envolventes e a prática de leitura no ‘cantinho’ só tem trazido benefícios para toda a turma.
Dessa forma, todos os dias permito que os alunos escolham nesse ‘cantinho’ os livros que querem levar para casa. No dia seguinte, os primeiros 30 minutos da aula são reservados para que todos possam ler um trecho do livro que chamou sua atenção. Os alunos que não dominam a leitura, ou ainda não decodificam as letras, fazem a leitura das imagens, produzindo textos orais.
Os recursos metodológicos que utilizo para o desenvolvimento das práticas de leitura são o alfabeto móvel, os livros, as histórias e os jogos. Esses recursos auxiliam as crianças no processo da aprendizagem, pois, têm potencial para aguçar o interesse e a motivação. Permitem que a criança faça uma reflexão de seu conhecimento e enriqueça seu aprendizado pela vivência dessas experiências.
A utilização desses recursos metodológicos, ou seja, o uso de materiais concretos, bem como a postura criativa do professor na elaboração das aulas, torna-as divertidas, humoradas e cheias de entusiasmo.
Dessa forma, os alunos se comportam com interesse e envolvimento. Mesmo aqueles que ainda não dominam a leitura e a escrita participam das atividades, relatando suas ideias, seu ponto de vista diante de determinado assunto que está sendo abordado. Os alunos fazem questionamentos, levantam hipóteses e discutem com os colegas as atividades de leitura e interpretação de textos que são realizadas.
A avaliação se faz por meio da prática de leitura. Os alunos leem para serem avaliados. Ouvindo a leitura feita pelas crianças tenho condições de avaliar se já sabem ler ou se estão caminhando nesse sentido. Só a partir da leitura individual é possível identificar as habilidades e dificuldades dos alunos, podendo assim, planejar as atividades de acordo com as necessidades de cada um.
Na avaliação da leitura, é importante também perceber se os alunos estão sendo capazes de compreender o sentido dos textos. Dessa forma, proponho atividades de interpretação, realizadas em sala de aula, enviadas para casa e presentes nas provas.
A leitura e a interpretação de texto são trabalhadas em todas as disciplinas. A criança só terá uma boa proficiência nos outros conteúdos escolares se tiver desenvolvido bem esta habilidade, portanto, a leitura é fundamental para o sucesso escolar.
Nesse sentido, a avaliação que desenvolvo é contínua e processual. Todas as práticas que englobam a leitura são acompanhadas, dando atenção especial ao processo de desenvolvimento da criança.




Avaliação dos resultados

Os objetivos propostos e indicados anteriormente neste trabalho foram alcançados, o que permitiu a aquisição, consolidação e ampliação dos conhecimentos por parte das crianças.
Trabalhar leitura com atividades sequenciais contribuiu para a aprendizagem dos alunos bem como para a socialização, aspectos que considero muito positivos. Os alunos se mostraram amigáveis e parceiros, tornando o meu trabalho mais receptivo e envolvente, o que favoreceu o alcance dos objetivos.
A interação na classe e desta comigo foi dinâmica, dessa forma, não houve dificuldade em executar as atividades por parte dos alunos, pois já possuíam um conhecimento prévio do assunto em questão, tiveram postura participativa e eu, como professora, me coloquei no papel de mediadora da construção do conhecimento. Portanto, as dificuldades que surgiram foram solucionadas, principalmente, a partir de uma boa relação professor-aluno.

Considerações finais

A realização das atividades descritas neste trabalho foi interessante e motivadora, pois envolveu os alunos na dinâmica proposta. Ao mesmo tempo, foi uma experiência gratificante porque pude acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos, sendo que os direitos de aprendizagem foram priorizados e os objetivos didáticos alcançados.
A experiência vivenciada contribuiu para o meu desenvolvimento pessoal e profissional, uma vez que as formações do Pacto permitiram ressignificar e refletir sobre a ação docente, em um movimento teórico-prático.
Ao final deste trabalho, tenho a expectativa de que as próximas ações a serem desenvolvidas em sala de aula se pautem pelo planejamento, pela constante avaliação de sua execução e pelo registro que constituem ferramentas indispensáveis ao fazer docente.


Referências

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.


______. Pró-Letramento: Programa de formação continuada de professores dos anos/séries iniciais do Ensino Fundamental: alfabetização e linguagem: formação de professores... – Ed. rev. e ampl. Brasília: MEC/SEB, 2008.

CORDEIRO, Verbena Maria Rocha. Escritores e leitores. CARVALHO, M. A. F. de; MENDONÇA, R. H. (Orgs.). In: Práticas de Leitura e Escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

FILIPOUSKI, Ana Maria Ribeiro. Professor: leitor e formador de leitores. CARVALHO, M. A. F. de; MENDONÇA, R. H. (Orgs.). In: Práticas de Leitura e Escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

SERRA, Elizabeth D’Ângelo. Livros de literatura e televisão. CARVALHO, M. A. F. de; MENDONÇA, R. H. (Orgs.). In: Práticas de Leitura e Escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.





[1] Graduada em Licenciatura Básica dos Anos Iniciais. Professora na Escola Municipal Manoel Mayrink Neto. E-mail: vaniagodoylima@hotmail.com


No Seminário.




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